Conheça a Escola da Ponte, em Portugal, onde o foco está na autonomia da criança
Autonomia, colaboração e jogos. A proposta pedagógica da Escola da Ponte, em Portugal, leva ao extremo a ideia de permitir que a criança construa sua própria compreensão do mundo. Fundada em 1976, no município de Santo Tirso (próximo à cidade do Porto), a instituição de ensino tem como princípio que os próprios estudantes devem escolher o caminho que querem percorrer no aprendizado. Com isso, a pessoa tem autonomia para fazer a própria ponte até a compreensão do mundo, a partir da perspectiva de que o indivíduo se faz no coletivo e que o grupo se alimenta da singularidade de cada um.
Com uma forte cultura colaborativa, a proposta do modelo de educação é que todos aprendam e ensinem ao mesmo tempo. Para estimular o exercício da autonomia e da liberdade de estudantes de 5 a 13 anos, a Escola da Ponte não utiliza uma organização por séries, salas de aulas e disciplinas, nem faz a cobrança de conteúdo por provas escritas.
A criação de jogos pelas próprias crianças é um recurso bem comum na busca pelos caminhos do aprendizado, comprovando mais uma vez que a natureza da criança é brincar e que essa é a forma de ela aprender mais rapidamente. A ideia surgiu de uma inquietação de seu idealizador, o educador José Pacheco, que, quando jovem, queria ser engenheiro eletrônico. Entretanto, ele não conseguia compreender porque as escolas ainda reproduziam a dinâmica criada há 200 anos, em período iluminista. "Percebi que na engenharia teria menos a descobrir, enquanto na educação ainda estava tudo por fazer" , declarou em entrevista à revista Nova Escola.
Abaixo, compartilhamos com você algumas diretrizes da proposta pedagógica da instituição:
1. Organização pedagógica
O processo de aprendizagem dos estudantes na Escola da Ponte passa por três núcleos. Na iniciação, a criança recebe tutoriais mais frequentes e passa a compreender que ela deve nortear o próprio processo de aprendizagem. Um exemplo de atividade realizada com esse público foi a tarefa de investigar como funcionam os sinais de trânsito. Com tutores, as crianças saíram às ruas para entender o que as placas significam, e depois, desenvolveram um jogo da memória com os símbolos recém-descobertos. Também foram estimulados a relembrar os familiares e amigos sobre o significado das placas. O segundo núcleo é o de consolidação, etapa correspondente ao 1º ciclo do ensino básico, em que a necessidade de acompanhamento diminui. Já no núcleo de aprofundamento, as crianças e adolescentes assumem um comportamento ainda mais autônomo. Os estudantes de diferentes idades se organizam a partir de interesses comuns em mesas comunitárias, e passam a gerir o currículo destinado ao 2º ciclo do ensino básico.
2. Currículo
A escola assume um caráter duplo do currículo: o primeiro é objetivo, relacionado às disciplinas base (matemática, língua portuguesa, história); o segundo é subjetivo, voltado ao desenvolvimento pessoal de cada estudante, e compreende que o percurso educativo necessita de um conhecimento mais aprofundado de si próprio e de um relacionamento solidário com os outros. No processo de alfabetização, a metodologia é inspirada nos educadores Paulo Freire e Célestin Freinet, estimulando as crianças a terem desejo em aprender a escrever e ler.
3. O papel do professor
Na perspectiva da Escola da Ponte, cada estudante deve definir seus próprios desafios e buscar resolver seus problemas, pedindo ajuda para quem pode ajudá-lo. Os alunos têm autonomia para acessar quaisquer professores da instituição, de acordo com a sua linha de estudo. O desenvolvimento de cada aluno é acompanhado por um tutor que deve fazer parte da comunidade escolar e é definido pela própria criança. A pessoa selecionada deve acompanhar tanto as questões de aprendizagem acadêmica quanto as comportamentais.
4. Diversidade
Na instituição de ensino, crianças e adolescentes com deficiências são incluídas na mesma proposta pedagógica que as demais. A escola também reúne estudantes de diferentes classes sociais. A Escola da Ponte já inspirou algumas instituições de ensino no Brasil. Na cidade de São Paulo, a Escola Municipal Desembargador Amorim Lima e a Escola Municipal Presidente Campos Sales também estimulam a autonomia dos estudantes no aprendizado.
Você conhece algum projeto semelhante aqui no país? Compartilhe com a gente. Foto: comenius-koethen.blogspot.com.br/
Cristiano Sieves
Especialista em LudopedagogiaEspecialista em Ludopedagogia para Educação Infantil e anos iniciais e autor de livros infantis, tem mais de 10 anos de experiência desenvolvendo jogos e games na área de Educação. Atualmente é Gerente de Marketing e Produtos na Playmove.